Fantásticas

 

 

 

A casa do tempo

O tempo entrou ali, pelas ventanas, pelas frestas da madeira. O tempo espreguiçou-se no balanço da cadeira. Sem cores, porque ama o cinzento dia eterno, o tempo esgueirou-se em silêncio pelos poros da poeira.
Fez do céu, um desfile de nuvens carregadas de elétrons e histórias testemunhas. Quem pode ler no cinza flutuante os enredos humanos e desumanos antes que se dissipem pelo ar?
O tempo parou ali, porque precisa de um remanso, da rede de descanso. O tempo brinca de esconder os dias debaixo dos tapetes e por entre as velhas telhas carcomidas. Dos amores, ele zomba sendo conhecedor dos desencontros atrapalhados das quimeras.
Desfez as folhas da primavera para que nenhuma prova restasse das horas ensolaradas. Quem lembra do cicio das árvores quando os meses evaporam o inverno de seus gases?

Anorkinda

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Doce e pequena Ternura

Certo dia, estava a doce Ternura a vagar pela tarde cansada. A semana estava no fim e um clima pesado caía sobre os ombros das gentes. A Ternura, tão doce como o mel, sentia-se triste, sem brecha onde entrar.
Ela esperava pelo domingo, quando nos passeios pelos parques, abriam-se portais onde ela brincava alegremente nos corações dos Homens. Mas nesta tarde cinzenta e modorrenta só lhe restava vagar sem pouso.
Mas, surpresa! A pequena Ternura vislumbrou um oásis em meio às indelicadezas, uma luz lhe piscou... Ela achegou e viu a cantar um coração que brilhava gentilezas, pouco importando-se se a semana passara atarefada, apressada, cheia de amarras.
Ah... Como eram especiais estas surpresas à pequena Ternura! Estes momentos de alegria eram provas de esperança ao futuro das Bondades.

Anorkinda

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Onde mora a fada mais bela

Claro que mora na floresta, a fada mais bela. A natureza a recebeu com encantos, com belezas nascidas somente para agradá-la.
Na borboleta de ouro ela guardava a essência dos voos, assim ela podia volitar com desenvoltura bonita.
Na pequenina fonte ela saciava sua sede de liquidez, e a maciez de sua voz ainda mais se valia com esta dádiva a jorrar.
No lilás de sua entrada principal, portal do aconchego, ela sorvia a  luz da renovação. A sabedoria dos tempos de união com os elementos.
O sol sempre vinha lhe visitar, amiúde. A lhe cortejar os perfumes de fada delicada, encantada na arte de amar.
Nas flores que desabrochavam ali, era visível a celebração de vida e cor, a coroar o prazer de tê-la, fada linda, a viver na floresta dos devaneios.

Anorkinda

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OS CAÇADORES DE PÉROLAS

Por sobre vagas e tempestuosas trilhas marítimas, seguiam eles, bravamente.
Repletos de emoção, expectativa, quase em transe. Seu objetivo era claro, brilhante, raro.
Os seres do oceano, por vezes ajudavam...Sinalizavam, assoviavam, cantavam até, as sereias.
Onde estavam as pérolas? As maiores.

Aventureiros, tal qual piratas, descuidavam de tudo, de si, do mundo.
Cegos de ambição. Cobiçavam as pérolas. A poeira do tempo.
Surgidas na eternidade, na paciência. Elas curavam.

Caçadores, não desejavam recompensas. Queriam a emoção da busca, do achado, conquistadores.
Dos mares, a jóia, presente sagrado, pérola de auto-cura.
Resgatada das profundezas, na areia faziam-se únicas, faziam-se imprescindíveis.
Pérolas sábias, dádivas de Netuno aos humanos desfrutares.

Anorkinda