de Amor 

 

 


Acho melhor sentir

Mesmo mexendo com palavras diariamente, todo o tempo.
Em pensamento, em verso, em prosa e em sonhos...
mesmo assim, acho melhor sentir do que dizer.
Como vou dizer do verbo que se entranha entre as veias do amor?
 Como vou escrever do símbolo gráfico
que desenhou teu nome estelar em meu peito?
Se aqueles fonemas não soam aqui como soam lá...
Que linguagem escrita ou dita poderia expressar coerentemente
o sentimento desconexo de te amar nos ontens e amanhãs,
nos vãos e completudes, nos vazios de nossos existires?
Acho melhor sentir e fluir a poesia do jeito que ela vem...
incompleta, surreal, sem noção do que é permitido ou mesmo funcional.
 Acho melhor sentir e cair neste abismo de reticências que a espera finge criar...
porque é no voo desta alegria de te amar que me percebo eterna
e silencio o poema quando esbarro em tua presença selada
naquele tempo nativo onde misturamos o destino com a paixão.

Anorkinda

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Estilingue

Queria um estilingue para jogar no mar as estrelas que recolho. Queria ver os rebrilhos nas profundezas pra revelar os segredos do abismo. Fazer uma festa de luzes no fundo oceânico, abraçar peixes, arraias e tubarões. Fazer piscar os corais e anêmonas, as algas...
Queria um estilingue de sonhos para adocicar o mar. Queria beber da água marinha num ritual pra atrair a leveza da vida. Nadar pelas águas novas do mar e conhecer o fluido das belezas, molhar a alma em mergulho. Nadar entre estrelas e sonhos, diluída em amores...

Anorkinda

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Iô-Iô

Pra cima e pra baixo, impulsionada pelo amor e pelas paixões que incendeiam minha vontade, eu vivo. Alegre, num riso solto quando o fio me transporta pra junto de sua mão... Macia mão amante, delirante, acaricia o brinquedo, eu, num prazer pueril...
Em expectativa, me largo, bungee-jump alucinado, na vertical da folia de ser manipulada por você... Adorável você, que me tonteia o juízo, louco, menino neste jogo febril que é amar sem medo.

Anorkinda

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Ladeira sem cor

Por que a ladeira que tu sobes hoje está sem cor?
Onde estão as cores diferentes que te enchiam os olhos alegres?
Por que deixastes monocromático o teu olhar?
Sobe, homem, a ladeira com sossego, devagar...
Respire fundo... as cores vão voltar.
Sorria ao ébano das portas... Das janelas, as molduras enquadram rotinas,
famílias debruçadas na pintura.
Sorria às pedras cinzentas, lavadas pela chuva de tua alma, as irregularidades
ajustam as experiências pisadas.
Sorria aos telhados aquecidos  pelo sol inclemente, o abrigo que eles oferecem
ora oprime ora aconchega...
Sorria, homem, a ladeira não é tão íngreme...
Inspire o ar fresco da manhã... Ele promete acalentar teu sono.
E ao acordares, sol a pino, teus olhos saberão que as cores voltaram.
Pois sonhastes com o perfume dela...

Anorkinda

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Se eu fosse o mar

Desesperado eu viveria, sem poder tocar-lhe a face e sentir a maciez da tez tua e nua, te sentir inteira. À espera de sua visita eu ficaria, alucinado, entregue aos desejos da lua... Sem nunca ter a certeza de te ver.
E quando viesses, eu lhe beijaria os pés em delírios de espuma. Te seduziria a ponto de entrares em mim a absorver minha volúpia de amor. Mas nem assim eu me satisfaria, louco nesta salgada imensidão, sem teu afago, teu agrado. Seria um fado aterrador.
Mesmo que viesses linda, a sorrir ao meu encontro... Eu seria mar e sem poder te amar no corpo, nas vísceras e em torpor, eu afogaria meu amar num sofrimento sem par.

Anorkinda

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Teima saudade

Saudade. É saudade é sentimento tormento...Por que fere tanto?
Salgado. É o sal dos olhos, ardendo...E secam, como estilhaços, ferem.
Saudade. É saudade é aperto por dentro...Por que tanto egoísmo?
Sentido. É o coração lamentoso, ardendo...E queima, em acessos de febre.
Saudade. É saudade é paralisia do tempo...Por que teimo tanto?
Silente. É a falta dos sussurros, ardendo...E infeliz, meu verso freme.

Anorkinda